segunda-feira, 18 de março de 2013

Síntese "Amor".

Amor

(Clarice Lispector)

http://www.releituras.com/clispector_menu.asp

“Laços de Família”, Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1998, pág. 19, incluído entre “Os cem melhores contos brasileiros do século”, Editora Objetiva – Rio de Janeiro, 2000, seleção de Ítalo Moriconi.

O
 Conto “Amor” é uma narrativa de Clarice Lispector que cujo centro é uma mulher comum, Ana, casada, com os filhos crescendo. A vida era normal, "os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos”.
A vida de Ana era rotineira e feliz em seu apartamento no nono andar, costurava para os meninos, recebia o marido de volta em casa todas as tardes e os moveis empoeirados todas as manhãs "como se voltassem arrependidos". Um dia, foi às compras e, depois, cansada, subiu no bonde para voltar a casa. Recostou-se no banco, procurando conforto, num suspiro de meia satisfação. Revê sua vida: plácida, sem tempestades, tudo no lugar. Com o saco de tricô que ela mesma tecera ao colo, cheio de ovos frescos, Ana é apenas uma mulher que vai às compras. Mas vê, com o bonde parado, um cego que, tateando, no escuro de si mesmo, as mãos estendidas para frente, sorri.
A partir daí, Ana tem sua epifânia, revelação da vida. Descontrolada emocionalmente perde o ponto onde deveria descer. Desce no Jardim Botânico e lá permanece, com a alma em estado de choque, por toda à tarde, até que anoiteça e se veja sozinha. Grita para que abram o portão e arfante chega a casa, onde faz um jantar às pressas para a família. Durante o jantar, não presta atenção a nada, a vida está modificada, o homem mascando chiclete, a cegueira e a vida, a certeza de que a humanidade sofre. Aperta o filho a ponto de assustá-lo e, quando todos se vão, diante do espelho, ouve o fogão dar um estouro. Era um defeito do fogão, mas que a traz de volta para a vida cotidiana. Abraça o marido, diz que não quer que ele sofra (ela mesma estava sofrendo por ter descoberto o mundo). Ele ri, e ela, antes de dormir, sopra a flama do dia.

Matheus de Almeida Gomes.

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